Ator de "Looking" agradece por não ser "um daqueles gays afeminados"

Como eu amo esse blog Para Mocinhos, resolvi postar na íntegra o texto sobre esse ator de Looking.



Via Blog Para Mocinhos

Se você achava o personagem Kevin, da série Looking, um cuzão, agora você pode ter motivos para pensar se o mesmo não se aplica também ao ator que o interpreta, o britânico Russell Tovey.


Durante uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, Tovey deu uma declaração bastante controversa sobre como sua educação, de certa forma repressora, não lhe permitiu se tornar “um daqueles gays efeminados”. Depois de relatar como já foi atacado num trem por causa da maneira como se vestia, e relatar como começou sua carreira ainda criança, o ator conta como não tinha amigos por causa dos trabalhos na televisão. Daí completa, depois de alguma relutância:

Eu morria de inveja de todo mundo que ia para a Escola de Teatro Sylvia Young. Eu queria frequentá-la, mas meu pai não deixou de jeito nenhum. Ele achava que eu ia me tornar um esquisitão sapateador sem qualquer qualificação. E ele meio que estava certo. Ainda bem que eu não fui. Talvez isso mudasse… Acho que eu acabaria sendo bem afeminado, se eu não tivesse frequentado a escola que frequentei. Uma escola em que eu sentia que precisava ser durão. Se eu tivesse a permissão para relaxar, saltitar por aí, cantar na rua, eu provavelmente seria uma pessoa diferente agora. Eu sou grato a meu pai por não me deixar trilhar esse caminho. Porque provavelmente foi isso que me deu essa qualidade única que as pessoas acham que eu tenho. Muita gente me diz que eu estou abrindo meu próprio rumo. Não há muitos atores que saíram do armário e são capazes de interpretar papéis héteros ou gays, e todo mundo acha OK.

Porque, claro, a culpa de atores que saem do armário não conseguirem papéis de personagens heterossexuais em filmes e programas de TV não se deve aos preconceitos das pessoas que escalam o elenco desses trabalhos, mas sim à falta de talento deles próprios. Provavelmente ele não sabe que o ator gay John Barrowman perdeu o papel principal do seriado Will & Grace por ser considerado “hétero demais” (Eric McCormack, que conseguiu o papel, é hétero).

Como já dissemos anteriormente, gays podem ter a liberdade de serem masculinos se quiserem, e isso é ótimo. Mas também devem ter a liberdade de serem afeminados se quiserem. Russel Tovey se sente bem agindo de maneira heteronormativa. Isso faz dele um “gay melhor”? Não. Faz dele um ator melhor? Também não, por mais que ele tenha se convencido disso (pode-se argumentar, até, que atrapalhou sua carreira, pela reação que os fãs de Looking estão tendo no Twitter).


Podemos considerar que essa foi a maneira como ele aprendeu a lidar com os pais que, por muito tempo, foram hostis quanto à homossexualidade do filho. Mas forçar-se a ter uma “atitude masculina” quando sua inclinação natural tende mais para o “feminino” não passa de um sinal de que Tovey passou a infância sofrendo sob os preconceitos dos pais e cedendo à pressão dos amigos. Seu troféu foi ter “endurecido”. Mas, numa cultura como a nossa, isso não é mérito nenhum. Valente mesmo é Brendan Jordan, o garoto que ficou famoso por dançar atrás de um repórter de televisão. Ele é afeminado e não pede desculpas por isso. Sua atitude é tão rara e tão abusada que ele ficou famoso por… ser do jeito que é. Não gosta? Problema seu.

Obviamente a razão por que atores ainda temem sair do armário – e por que aqueles que se declaram homossexuais muitas vezes não conseguem papéis heterossexuais – não tem nada a ver com o talento dos atores ou sua capacidade de interpretar personagens das mais diversas orientações sexuais. Tem a ver com os preconceitos da própria indústria do entretenimento. Como recentemente declarou Dustin Lance Black, o roteirista que ganhou um Oscar pelo filme Milk e namorado de Tom Daley:

Os estúdios estão do nosso lado, os produtores estão do nosso lado, mas nós entramos num beco sem saída quando se trata de empresários e agentes. Eles acham que [um ator se declarar homossexual] vai prejudicar seus rendimentos. É uma maneira antiquada de se pensar. O atores mais jovens estão saindo do armário agora, e não há como entrar de volta. Então os empresários e agentes vão ter que virar gente grande e criar coragem.

Quem sabe Russel Tovey também não vai entender isso?

Agora, o mais triste dessa história toda é entender como caras como ele se tornam pessoas assim. Durante a entrevista Tovey conta que, uma vez, foi esfaqueado por dois caras em um trem só porque estava usando um cardigan. Segundo ele, na época, homens não usavam cardigans no interior da Inglaterra (embora não explique o motivo, talvez seja algo como usar brinco nos anos 1980 aqui no Brasil).

Ele conta que ficou muito traumatizado e que encontrou a redenção na… academia. De musculação, não no meio acadêmico, é bom ressaltar. E que o fato de malhar e se tornar um homem mais forte lhe deu mais autoconfiança e um senso de poder.

“Eu fiquei tão frustrado. E ir para academia três anos depois, e me engajar nisto, me fez sentir mais no comando. Eu precisava exorcisar aquele sentimento de ser um ratinho magrelo e assustado.

Pois é. Pena que esse exercício e esse sentimento de poder o fez se tornar um agressor, né, Russel?

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